quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Córrego do Julião
Fomos, trieiros velhos comendo os pés, ao córrego do Julião. Águas claríssimas e profundas correndo num canal apertado. Um pulo pouco afoito e está-se do outro lado. É assim o corguinho amigo de pescarias desde que o mundo é mundo. Fato é que, às vezes, ele trata e, depois, nega peixe, fecha-se numa indiferença arrogante e faz de conta que não estamos varas, linhas e anzóis bem iscados, bulindo dentro dele.
Arrumamos a traía, a matula, a palha e o fumo forte para espantar borrachudo. O Velho observou na folhinha por detrás da porta a fase da lua, ensinou-nos a oração de S. Bento para espantar os bichos mal peçonhentos e lá chegamos, sob a solene recomendação de não fazer barulho para não espantar os peixes. Cuspindo na água, o Velho examinava os poços e as corredeiras; lambari do rabo amarelo tem muito aqui e meia dúzia deles numa capanga, alguns num gancho, inda outros, esses bagres, no embornal do Tadim.

Minha alma beira o rio
o rio me entra n’alma
sorrindo lambaris
e murmurando frescor
vai no rio minha sina
de ser alegre lambari.

Onaldo Alves Pereira

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